Encerrando a série de matérias publicadas durante a “Semana do Guarani” (instituída por lei municipal), preparadas pelos amigos Celso Franco e Fernando Pereira, que por décadas tanto pesquisaram e resgataram histórias esquecidas do nosso Bugre, eis que surge a que seria “a cereja do bolo de 110º aniversário”, trazendo aos torcedores uma biografia ilustrada do atleta que mais vezes vestiu a camisa alviverde e também a lista atualizada dos gols marcados pelos 15 maiores artilheiros dos nossos primeiros 110 anos. Saboreiem…

JOCA – A MURALHA QUE VENCEU O TEMPO

João Luiz Ungaretti, o Joca, nasceu no então bairro de Vallinhos em 16 de abril de 1899. Ainda garoto, começou a bater bola nos campos de terra batida e jogando nos times locais do Rio Branco, Pinheiros e Sant`Anna.

Sua paixão pelas cores verde e branca do Guarani Futebol Clube o trouxeram para Campinas em 1918. No Bugre, após iniciar no famoso “segundão” bugrino, o jovem zagueiro teve sua primeira oportunidade no time principal num amistoso realizado em Amparo contra o Floresta AC no dia 10/10/1920, com vitória bugrina por 3 x 0 (Nota: o novato Floresta não pertencia à APEA e para que o jogo acontecesse foi noticiado que estaria em ação o “Sport Club Guarany”, artifício já utilizado).

O “Delegado”, como ficou conhecido, participou da memorável partida de inauguração do “Pastinho” contra o poderoso CA Paulistano de Friedenreich, em 15/07/1923, com vitória do Bugre por 1 x 0 (na foto a seguir).

Em 1925, foi um dos convocados para integrar o Selecionado da APEA do Interior contra o Selecionado Fluminense.

Símbolo de Perseverança, Disciplina e Classe, o zagueiro que jogava sempre de gorrinho na cabeça não se deu por vencido diante das fraturas que o anti-futebol lhe concedeu ao longo da carreira: cabeça, pé, clavícula e pelo menos duas fraturas nas pernas (já se falou em três).

A mais complicada ocorreu em 17/10/1926, num jogo pelo Campeonato do Interior da APEA contra o Dalva FC de Campinas, no “Pastinho”. Ele voltou a jogar, talvez prematuramente, no dia 10/04/1927, na Vila Belmiro (na famosa partida em que o Bugre venceu o Santos FC de virada por 6 x 5, após estar perdendo no intervalo por 5 x 1). No 2º tempo, o inconformado atacante Feitiço, do Santos, entrou com violência e fraturou novamente a perna de Joca, que dessa vez ficaria fora dos gramados por mais de um ano. Só voltou a atuar em julho de 1928.
Dias antes dessa imprudência, o jornal Rio Sportivo publicara matéria sobre Joca, dizendo ser o maior zagueiro do Brasil.

Disputou os Campeonatos Paulista de 1928, 1929, 1930 e 1931, onde com brilhantismo o Bugre sempre se colocou entre os primeiros colocados. Joca “marcou” os craques mais consagrados do futebol em sua época.

A seguir, o rosto recuperado digitalmente de Joca, obtido a partir de foto de divulgação de 1930. Ao lado, sua assinatura.

Num concurso realizado pela Cigarros Sudam em 1938, o craque bugrino foi eleito o jogador mais querido da cidade com 320.944 votos, ultrapassando até mesmo o Guarani FC, que venceu o concurso de “O Clube Mais Querido” com 320.743 votos.

Em 1939, Joca participou do jogo contra o Fluminense FC do Rio de Janeiro que marcou a estreia de Zuza com a camisa do Guarani e que trouxe uma das mais belas vitórias bugrinas até então: 3 x 2. Recebeu homenagens em novembro de 1940, do Guarani FC e do EC Vallinhense, e em 1946 no terceiro encontro entre Fluminense FC e Guarani FC. Seu jogo de despedida ocorreu no dia 27/04/1941, pelo Campeonato Campineiro, contra o Guanabara FC no estádio Dr. Horácio Antonio da Costa, na única derrota da história do Bugre no “Clássico Gua-Gua”: 3 x 2. Ainda jogaria no CA Valinhense.

Com 401 jogos disputados na equipe principal, entre 1920 e 1941, Joca é o atleta que mais vezes defendeu as cores do Guarani FC nos 110 anos de sua história. E tem mais: transformando-se num dos cobradores oficiais de pênaltis da equipe bugrina, marcou o número invejável de 24 gols.

Suas principais conquistas com o manto verde e branco:
Campeão Campineiro de Futebol (ACF) – 1920
Vice Campeão Regional do Interior (APEA) – 1921
Campeão 2ª Região do Interior (APEA) – 1926
Campeão da Série Campineira (APEA) – 1932
Campeão do Torneio Início da Série Campineira da APEA – 1932 e 1934
Campeão Campineiro de Futebol (LCF) – 1938 e 1939
Campeão do Torneio Início da LCF – 1936, 1938 e 1939

Em 02/04/1956, foi homenageado em vida pelo povo Valinhense e pela coletividade bugrina com a inauguração de herma com seu busto, obra elaborada pelo artista Lélio Coluccini que está localizada na antiga entrada principal do Brinco de Ouro da Princesa. É o único busto de um jogador no estádio bugrino.

A seguir, dois momentos da inauguração do busto (que precedeu um amistoso entre Guarani x Sport Recife).  Fotos de Haroldo Pazinatto.

Na foto à esquerda, um grupo de valinhenses que o homenageava (incluindo o ex-atleta Nato), e também o presidente bugrino Esmeraldino Antunes Barreira e Zico Alves (presidente da Liga Campineira de Futebol). À direita, o presidente discursa, sob os olhares do ex-jogador Pavuna, Pompeo de Vito e Geraldo César Bassoli:

Joca, um grande jogador, um bugrino como poucos, um amor insuperável ao Guarani Futebol Clube em toda sua existência, faleceu em 21/10/1969.

Esta é a nossa homenagem ao eterno zagueiro que defendeu nossas cores por 21 anos. Muitíssimo obrigado, Joca!

OS 15 MAIORES ARTILHEIROS DA NOSSA HISTÓRIA

Alguns anos atrás, um novo levantamento dos 10 maiores artilheiros da história do Guarani – após busca de dezenas de fichas técnicas desconhecidas em várias cidades do interior – foi divulgado. De lá para cá, o difícil garimpo continuou e algumas novas informações foram obtidas, já cabendo uma atualização. Dos dez, Nenê, Villalobos e Fifi tiveram aumento de um gol cada em sua estatística.

Para esta comemoração da “Semana do Guarani”, em seu 110º aniversário, aproveitamos para acrescentar os artilheiros que ocupam do 11º ao 15º lugar. São eles: China; Benê e Zenon empatados na 12ª colocação; Paulo Leão e Bibiano.

China (José Gonçalves da Silva), com 83 gols, foi adquirido junto ao São Paulo FC por 80 mil cruzeiros para as disputas do 2º turno da Divisão de acesso de 1949. O atacante chegou ao Guarani com 26 anos e a fama de “resolver paradas”, e assim o fez, sendo o artilheiro do time e umas das principais peças da conquista do título e do acesso em 1949, com 24 gols marcados. Defendeu o Bugre de 1949 a 1952.

Zenon de Souza Farias chegou ao Brinco em 1976, estreando em 29/01 num amistoso em Marília contra o MAC, com vitória do Bugre por 3 x 1. Seu primeiro gol foi de pênalti, em 07/03/1976, num dérbi fora de casa, dando a vitória ao Guarani por 2 x 1.
Na campanha do título de 1978, Zenon atuou em 27 jogos e marcou 13 vezes. Defendeu a Seleção Brasileira em 1979. Transferiu-se para a Arábia Saudita quando deixou o Brinco pela primeira vez, retornando ao Bugre para a temporada 1989/1990. Ao todo, fez 81 gols com o manto bugrino, mesmo número de outro grande camisa 10 de nossa história: Benê.

Benê (Benedito Leopoldo da Silva) fez 81 gols entre 1956 e 1961. Revelado no Paulista de Jundiaí, a estreia do craque com a camisa verde e branca, já marcando seu primeiro gol, foi no Estádio Dr. Horácio Antonio da Costa – do EC Mogiana – em amistoso do Bugre contra o XV de Piracicaba, em 07/03/56, com vitória bugrina por 4 x 0. Benê “explodiu” no Guarani, sendo vendido ao S. Paulo FC por 80 milhões de cruzeiros. Em 1962, Benê já estava na Seleção Brasileira (não ficou entre os 22 que foram à Copa do Chile por polêmicos “problemas médicos”, mas essa é outra história…).

Paulo Leão (Paulo Gracindo Leão), autor de 79 gols, começou nas categorias de base do Bugre em 1956, chegou ao time principal em 1959 e defendeu o alviverde até 1962. Artilheiro nato, Paulo Leão foi fundamental nas campanhas do Bugre no Paulistão daqueles anos. Formado em Educação Física, voltaria anos depois para trabalhar no Brinco de Ouro como técnico da equipe júnior. Em meados de 1986, foi técnico da equipe principal bugrina por breve período e voltou a dirigi-la interinamente em 25/10/87, na vitória sobre a Portuguesa por 2 x 1 em 1987, pelo Módulo Amarelo do Brasileiro daquele ano.

Bibiano (Firmino Bibiano da Silva), meia esquerda de origem, chegou ao Bugre em 1938 e permaneceu até 1947. Campeão do Interior e do Estado (amador) em 1944, o polivalente Bibiano jogou até no gol do alviverde, por contusão do goleiro. Marcou 78 gols, contabilizados até aqui.

A lista atualizada:

1 – Zuza – 221 gols
2 – Nenê – 138 gols
3 – Careca – 118 gols
4 – Augusto – 104 gols
5 – Zequinha – 95 gols
6 – Roberto Caco – 93 gols
7 – Fumagalli – 90 gols
8 – Villalobos e Jorge Mendonça – 88 gols
10 – Fifi – 86 gols
11 – China – 83 gols
12 – Zenon e Benê – 81 gols
14 – Paulo Leão – 79 gols
15 – Bibiano – 78 gols.

Obs: A busca por fichas técnicas faltantes continua…

Pesquisas de Celso Franco.